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A mostrar mensagens de julho, 2015

25 - ONDE ANTES NADA ACONTECIA, TUDO MUDOU

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  Ana Carlota tentava viver os dias com a naturalidade possível, mas a guerra não lhe fez a vontade, e ela bem cedo começou a construir e imaginar uma outra realidade, uma em que a vida não lhe tivesse roubado Eduardo e apenas a fizesse sorrir. O rio que se estendia junto à grande propriedade passou a ser o seu único conselheiro, e o mais fiel dos amigos. Ela deixou de falar e fechou-se num mundo só dela, olhava para o chão branco do seu quarto onde ficava sentada e nele se via refletida, como num espelho. Imaginava Eduardo perto de si, e recordava a festa do seu noivado onde os dois dançaram as valsas de Strauss pela noite dentro. Este espaço perdido entre sonho e realidade prendia-os à vida. Era ali que Ana Carlota conseguia sentir Eduardo, e era àquele lugar que ele acreditava conseguir regressar mal terminasse aquela loucura. Ana Carlota agarrou-se à memória dos momentos felizes que juntos partilharam, e rezava pela vida de Damião, ali, naquele lugar perdido entre so

24 - A MAGIA DE MATSUBA

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Quando alguém sonha, não é muito comum ver-se a si próprio a dormir dentro do sonho. Carlota detestava quando isso lhe acontecia, era algo que a agastava. Matsuba sabia que Ana Carlota não apreciava olhar para o seu corpo adormecido dentro dos sonhos. Ela nem desconfiava que tinha sido a carpa quem ajudou a que ela chegasse até aquele espaço que ficava encravado entre sonho e realidade. Mais difícil seria os dois tentarem, sozinhos, encontrar uma saída, mas tempo era coisa que não lhes faltava. A ajuda da magia de espírito do rio era mais do que bem vinda. A carpa encontrou-os e deu uso à sua sabedoria. Ana e Eduardo foram transportados, no mesmo instante, para o meio de um enorme salão de baile. Os dois dançavam, com mestria, uma das mais famosas valsas de Strauss. - Hoje é dia de festa, Carlota, não quero que penses em mais nada! Quem me dera que este dia pudesse durar para sempre. Ana esboçou um sorriso, com os olhos humedecidos, carregados de receios, e com o peit

23 - PROMESSA

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Estavam presos naquele lugar e Damião não sabia o que fazer. O que menos desejava era fazer parte da história, mas as suas roupas ficaram tão brancas como tudo o resto, tão brancas como o vestido de Ana Carlota. Havia muitas folhas de plátano caídas perto dela, todas brancas, a atapetar o chão. Algumas voavam, rodopiando, levadas pelo vento que soprava de maneira inconstante. Ana Carlota estava sentada, de pernas cruzadas, a sorrir. Olhava para a cara espantada de Damião, e o seu sorriso aumentava. - Se tu te pudesses ver, Eduardo, estás com uma cara tão engraçada! Ele não lhe respondeu, não conseguiu, e mesmo que o tivesse feito não teria sido capaz de escutar a sua voz. As palavras de Ana Carlota chegavam-lhe através do pensamento pois a surdez ainda não tinha desaparecido. Em cada ouvido suava um apito agudo e estridente que tomava conta dele quase ao ponto de o enlouquecer. - Não fiques nervoso. Dentro em breve esse assobio irritante irá desaparecer e tu voltarás a