34 - PENSO EM TI, E NADA MAIS IMPORTA
Matsuba tinha regressado às águas vermelhas do rio para
proteger os sonhos de Carlota.
Espírito do rio continuava a nadar com o anzol do
avô Tomé cravado na boca. Foi ele o pescador que mais perto esteve de o fazer
sentir o sabor amargo da derrota. Quando a pescaria estava perto do seu final,
a carpa brilhou como se fosse de ouro, naquelas águas de prata, e Carlota ficou
desconsolada com o possível desfecho do combate entre o avô e o peixe
maravilhoso. A menina experimentou um horror desconhecido, um abismo a abrir-se
dentro dela, e vomitou.
As nuvens ficaram mais leves e arredondadas.
Matsuba atravessou o céu escuro e carregado que
vestia o dia da batalha para ajudar Eduardo Damião.
- Talvez nada disto seja verdade! – pensou o alferes
ao ver o céu mudar de cor. Os olhos ardiam-lhe e ele não compreendia porque
ainda estava vivo. – Talvez nada disto seja verdade! – repetia – Talvez…, não
importa… mas a ser verdade, os homens aprenderam hoje uma enorme lição.
Ergueu-se, com dificuldade e cheio de dores. Gritou
e sentiu-se estranhamente vivo naquele lugar onde Carlota lhe acenava, ao
longe.
- É contigo que eu quero estar, meu amor, tu e eu
abraçados na varanda do nosso quarto branco a olhar as águas tranquilas do rio
que nos juntou.
A carpa Matsuba acordou-o e ajudou-o a erguer-se da
fossa onde estava afundado. Eduardo acreditou que uma enorme carpa dourada lhe
dava alento e lhe devolvia o sentir e o pensar. Aquela passou a ser a nova
consciência de que a sua vida era feita.
- Vês, Carlota, não vale a pena vivermos apavorados,
meu amor. Penso em ti, penso em nós, vejo-te à janela e acredito que este
inferno onde me arrasto é apenas um longo sonho mau onde estamos presos e do
qual, em breve, despertaremos.
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