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A mostrar mensagens de outubro, 2015

34 - PENSO EM TI, E NADA MAIS IMPORTA

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Matsuba tinha regressado às águas vermelhas do rio para proteger os sonhos de Carlota. Espírito do rio continuava a nadar com o anzol do avô Tomé cravado na boca. Foi ele o pescador que mais perto esteve de o fazer sentir o sabor amargo da derrota. Quando a pescaria estava perto do seu final, a carpa brilhou como se fosse de ouro, naquelas águas de prata, e Carlota ficou desconsolada com o possível desfecho do combate entre o avô e o peixe maravilhoso. A menina experimentou um horror desconhecido, um abismo a abrir-se dentro dela, e vomitou. As nuvens ficaram mais leves e arredondadas. Matsuba atravessou o céu escuro e carregado que vestia o dia da batalha para ajudar Eduardo Damião. - Talvez nada disto seja verdade! – pensou o alferes ao ver o céu mudar de cor. Os olhos ardiam-lhe e ele não compreendia porque ainda estava vivo. – Talvez nada disto seja verdade! – repetia – Talvez…, não importa… mas a ser verdade, os homens aprenderam hoje uma enorme lição. Erg

33 - UMA PONTE FEITA DE SEDA

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Espírito do rio cantou ao regressar às nuvens leves e arredondadas, cantou ao conseguir fugir do pescador que quase o conseguiu apanhar. Ana Carlota adorou ver a cara do avô depois de ele ter desistido de lutar contra o Espírito do rio. O seu rosto era um misto de desalento e tristeza, e ela tinha a alma sorridente. A boca sabia-lhe mal e o estômago doía-lhe. As dores obrigavam-na a contorcer-se, mas tinha valido a pena. Ela não conseguia esconder o seu contentamento. Ergueu-se, e abraçou-se ao avô Tomé com quem trocou beijos perfumados. Unida ao corpo do avô, Carlota observou a silhueta nobre da moradia apalaçada que lhe pareceu mais bela do que nunca. Prometeu a si própria que nesse mesmo dia, após o entardecer, a iria visitar. E foi isso mesmo que aconteceu. Na noite negra daquela treva sem fim, as águas vermelhas receberam de volta Espírito do rio que depois bordou uma ponte feita de seda que o transportou para o lugar onde os homens se aniquilaram em alamedas de horr

32 - O INFERNO HABITA NA ALMA DOS HOMENS

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Máscaras de gás iluminadas ficaram espalhadas pelo chão como ídolos, crisântemos mórbidos semeados pelos campos da batalha espreitavam por entre os corpos ainda quentes dos guerreiros mortos. Os homens fitavam o infinito com olhares vítreos num labirinto de pernas e braços retorcidos. As armas abandonadas naquela terra de ninguém eram silhuetas a anunciar aos ventos quem eram os vencidos. Formavam um vasta floresta entristecida onde uma opereta de gemidos e murmúrios perdurou antes da chegada triunfante do silêncio e da escuridão. Aquele dia negro nasceu descomposto e desconsiderado, e nele cresceram pecados sem fim, loucuras tamanhas capazes de transformar quilómetros de trincheiras e de campos de batalha em cemitérios sem fim. Os corpos de milhares de guerreiros jaziam, descompostos, transparentes, num final calamitoso sem direito a choros ou exéquias. O inferno provou que habita na alma dos homens, e mostrou-o em La Lys para que jamais fosse esquecido. - Diz-me, meu am