26 - TRINCHEIRAS




O dia não estava a correr conforme Eduardo tinha imaginado desde o instante em que a lua lhe deixou de fazer companhia. Talvez tivesse sido engolida pela imensidão de branco que desregulou o quarto de Carlota alterando-lhe os sonhos e o tempo. Eduardo era um bravo tenente que dificilmente se deixava intimidar, e acreditava que nem da morte tinha medo, mas a vida desejou outra coisa. Tudo se conjugou para que ele ali estivesse naquele dia, e as trincheiras possuíam o poder de conseguirem abalar as crenças aos mais temerários soldados. O inferno não existia onde eles imaginavam, o inferno era ali que lhes acontecia, naquela guerra nova tão diferente das outras que antes já tinham acontecido. Os homens combatiam escondidos uns dos outros em valas e corredores lamacentos e fétidos que mais não eram que sepulturas desenhadas e construídas pelos próprios com um único propósito – convocar a mais infame dos torturas onde, para sempre, se recordará a angústia, o horror, a morte, e uma nova forma de medo.

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