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A mostrar mensagens de agosto, 2015

27 - UM PRESENTE DE MATSUBA

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Num ápice, tudo se desequilibrou, o céu ficou iluminado e tudo se quedou virado ao contrário, sem que nada o fizesse antecipar. O céu era agora o chão, os soldados voaram, e ficaram de cabeça para baixo, e tudo o que ainda era lógico deixou de o ser. As tropas inimigas lançaram um ataque maciço capaz de fazer tremer o próprio vento que provinha do sul,   disparando uma chuva incessante de balas e obuses. Desde que Eduardo partiu para França, Carlota permanecia os dias escondida no quarto do sótão, quase uma sombra do que tinha sido, apesar de não o saber. Os dois tinham resolvido antecipar a data do casamento também por esse motivo, e o seu amor ficou selado antes da viagem de Damião. No final da festa, subiram até ao quarto branco que tinha sido decorado segundo as instruções de Ana Carlota, até ao mais ínfimo detalhe. Ali seria o seu refúgio, dali se vislumbrava a mais bela das paisagens e ali tinham tudo o que necessitavam para se sentirem verdadeiramente em casa. O rio

26 - TRINCHEIRAS

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O dia não estava a correr conforme Eduardo tinha imaginado desde o instante em que a lua lhe deixou de fazer companhia. Talvez tivesse sido engolida pela imensidão de branco que desregulou o quarto de Carlota alterando-lhe os sonhos e o tempo. Eduardo era um bravo tenente que dificilmente se deixava intimidar, e acreditava que nem da morte tinha medo, mas a vida desejou outra coisa. Tudo se conjugou para que ele ali estivesse naquele dia, e as trincheiras possuíam o poder de conseguirem abalar as crenças aos mais temerários soldados. O inferno não existia onde eles imaginavam, o inferno era ali que lhes acontecia, naquela guerra nova tão diferente das outras que antes já tinham acontecido. Os homens combatiam escondidos uns dos outros em valas e corredores lamacentos e fétidos que mais não eram que sepulturas desenhadas e construídas pelos próprios com um único propósito – convocar a mais infame dos torturas onde, para sempre, se recordará a angústia, o horror, a morte, e uma n