23 - PROMESSA





Estavam presos naquele lugar e Damião não sabia o que fazer. O que menos desejava era fazer parte da história, mas as suas roupas ficaram tão brancas como tudo o resto, tão brancas como o vestido de Ana Carlota. Havia muitas folhas de plátano caídas perto dela, todas brancas, a atapetar o chão. Algumas voavam, rodopiando, levadas pelo vento que soprava de maneira inconstante. Ana Carlota estava sentada, de pernas cruzadas, a sorrir. Olhava para a cara espantada de Damião, e o seu sorriso aumentava.
- Se tu te pudesses ver, Eduardo, estás com uma cara tão engraçada!
Ele não lhe respondeu, não conseguiu, e mesmo que o tivesse feito não teria sido capaz de escutar a sua voz. As palavras de Ana Carlota chegavam-lhe através do pensamento pois a surdez ainda não tinha desaparecido. Em cada ouvido suava um apito agudo e estridente que tomava conta dele quase ao ponto de o enlouquecer.
- Não fiques nervoso. Dentro em breve esse assobio irritante irá desaparecer e tu voltarás a escutar os sons de todas as coisas com a mesma naturalidade de sempre. Mantém-te calmo, eu necessito que permaneças tranquilo para me puderes ajudar, e eu quero que me ensines a dançar. Tu garantiste-me que o irias fazer se eu te mostrasse o meu quarto, e agora que aqui te trouxe, espero que cumpras a tua promessa e me ensines a valsar.


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