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A mostrar mensagens de junho, 2015

22 - A MINHA SALVADORA

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Nadava Matsuba sem que ninguém o visse, solitário, como de costume, naquele espaço exíguo onde os pensamentos se faziam escutar. Ali estava o limbo branco e iluminado para onde Ana Carlota atraiu Damião. Espírito do rio sabia que só ela podia ser a responsável pela sua libertação. O avô Tomé aguardou anos pela oportunidade de pescar a mais antiga e famosa das carpas do rio, e esteve quase a concretizar esse seu sonho, não fosse a neta mais velha ter ficado indisposta e ter vomitado, aos jatos, para o interior da pequena embarcação. Tomé ficou assustado, primeiro, e pesaroso, depois, para além de ter ficado muito preocupado com a neta que não parava de vomitar. Matsuba aproveitou a oportunidade para fugir. Ela devia a sua vida à súbita indisposição de Ana Carlota, que nada teve de acidental. Espírito do rio nunca parava de nadar, a sua presença enchia o quarto misterioso. Ana Carlota permanecia desmaiada com Eduardo Damião agachado ao seu lado, sem saber o que fazer.

21 - O MUNDO FICA ATRÁS DAQUELA PORTA

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O quarto do sótão ainda permanecia fechado, e não permitia que o rapaz tivesse a verdadeira noção de como seria o interior daquela divisão. O cheiro era bastante desagradável, pois muitos pássaros tinham construído ninhos nos beirais dos telhados. O chilrear era constante e pouco harmonioso, mas apesar disso Eduardo Damião conseguiu perceber o ruído de um avião que riscava o céu, lá ao longe, enquanto Ana Carlota abria a porta branca e cinzenta onde o seu mundo acontecia. - Vem, Eduardo, vou mostrar-te o quarto dos meus sonhos. É aqui que tu me ensinarás a dançar. Uma luz branca muito intensa iluminou o último piso da habitação. Era tão refulgente que quase os cegou. Carlota estava deitada no meio do soalho da divisão, que lhe ia servindo de cama, e que mais não era que uma imensidão de madeira branca, quase infinita, que Eduardo Damião acabava de conhecer. Assim que ali entrou, ficou sem palavras. Deixou de sentir a mão de Carlota, a mesma que ainda há pouco o protegia,

20 - SE TE PUDESSES VER AO ESPELHO...

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A casa, sempre esta casa, sempre a mesma casa, a surdir nos seus sonhos com regularidade, e dias havia em que despontava na outra margem do rio, sem ser em sonhos, e Ana depois já não queria acordar, e também não se queixava deles. Eduardo Damião estava a fazer parte de um desses eventos em que ela revisitava a habitação. O rapaz decidiu-se e foi até ao alpendre. Abeirou-se da porta e entrou na mansão. Chamou por Carlota, não obteve resposta. Depois insistiu, com o nervoso miudinho a invadir-lhe o corpo. Onde se teria ela metido, que não lhe respondia? Caiu por um qualquer buraco do chão, ou terá sido atacada por uma força oculta, vinda do além? O que ali ia acontecendo não era coisa boa. Eduardo acabou por se encher de coragem e passou a pente fino todos os cantos e recantos de todas as divisões, salas, salinhas e quartos do piso térreo. Depois desceu até ao claustro e chamou-a, aos berros, outra dúzia de vezes. Abriu e fechou todas as portas de todos os armários e r

19 - AQUI SINTO-ME SEGURA

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Ana Carlota imaginou-se a dona da mansão. Devolver-lhe a nobreza e a grandiosidade de outrora seria a sua principal tarefa. Como foi possível terem deixado chegar a casa àquele estado? Mas isso agora eram histórias do passado. As obras arrancariam num dia chuvoso, o mais perfeito de todos, tão de acordo com os gostos da nova proprietária do imóvel, que assim sempre o sonhara. O arquiteto e o empreiteiro estavam de acordo. As obras de restauro demorariam entre catorze a dezasseis meses, mas a duração dos trabalhos era o que menos importava. O grande sonho de Carlota ia ser concretizado, e já não faltava muito para que ela pudesse usufruir da vista esplendorosa do seu novo quarto, no topo da habitação. - Em que é que estás a pensar? – perguntou-lhe Eduardo Damião, ao sentir Carlota tão ausente. O corpo dela estava ali, mas o seu juízo tinha voado para outra direção, para um tempo e um espaço que só ela conhecia. Isto acontecia-lhe de todas as vezes que pousava os pés naquel