04 - OS RECEIOS DE CARLOTA



A avó não estava disposta a deixar que o roubo da embarcação pudesse estragar o dia às raparigas, e acabou por telefonar ao compadre Jesuíno para remediar a situação, caso contrário o Tomé ficaria sisudo o resto da semana e ela não estava para lhe aturar os maus humores. Os dias de pescaria passados na companhia das netas eram, de longe, os que ele mais prezava, e Bernardete sabia-o melhor do que ninguém. O compadre era incapaz de deixar por resolver um assunto tão importante, e de imediato fez questão de colocar um barco à sua disposição para que o dia não ficasse estragado, e prontificou-se a levar o bote até ao pequeno pontão junto à oficina de Tomé. A viagem demorava pouco pois eles eram praticamente vizinhos.
- Pronto, está tudo resolvido, meninas! Em breve, o compadre Jesuíno vai trazer-vos um barco, mas vocês ainda têm muito tempo para tomarem o pequeno almoço, e depois… podem ir passear e pescar com o vosso avô tal como estava combinado. Viram, o que é que eu vos disse, não há nada que não tenha solução!
Os olhos quase negros do avô Tomé recuperaram o brilho perdido enquanto ele mordiscava uma torrada. Emília sorriu de contentamento mas para Carlota continuava a ser difícil esconder os seus receios. E se o rio que ela tanto adorava se atrevesse a fazer-lhes o mesmo que lhe tinha feito na noite passada?
Era quase meio-dia e nem o avô Tomé tinha conseguido pescar um peixe que fosse, mesmo depois de ter lançado o seu famoso engodo. Seria possível a iguaria não estar a fazer efeito? A prima Emília chamou a atenção do avô para a invulgar quantidade de barcos que navegam por ali naquela manhã. Eram eles o motivo da fraca pescaria, pois estavam a assustar os peixes.
Depois de mais uns minutos passados no mesmo lugar, Tomé decidiu remar para uma zona mais tranquila que ficava perto da outra margem e de onde se conseguia vislumbrar a mansão em toda a sua grandeza. Metia-lhe pena ver uma propriedade assim ao abandono e num tão avançado estado de ruína.

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