02 - ROUBARAM O BARCO DO AVÔ TOMÉ
O barco desapareceu de um dia para o outro. O avô
Tomé ficou triste quando deu conta que o fiel companheiro de pescarias tinha
sido roubado. Quem teria sido o autor de semelhante façanha, quem é que se
arriscaria a levar uma barcaça velha que apenas possuía valor sentimental?
Aquilo devia ter sido uma brincadeira de algum miúdo mais atrevido que achou piada
ao barco e o levou a dar um passeio. Provavelmente, foi isso que aconteceu.
O avô Tomé não era pessoa para ficar triste durante
muito tempo, nem se arreliava com facilidade, e depressa considerou que o
gatuno devia aproveitar o melhor possível a sua viagem.
Ao voltar a casa, foi sentar-se à mesa da cozinha e
dar a novidade à avó Bernardete, num tom de desabafo:
- Alguém achou muita graça ao nosso barco e resolveu
levá-lo. Olha que os malandros nem foram capazes de nos virem pedir licença! E
agora? Como é que eu vou fazer para levar as raparigas à pesca? – perguntou o avô,
com ironia na voz.
- Porque não vais falar ao compadre Jesuíno, homem?
Talvez ele te consiga arranjar um barquito para remediar a situação. Só consigo
pensar no compadre para resolver o assunto. Telefona-lhe, olha que as miúdas
estão à espera deste dia desde que chegaram, e tu bem sabes o quanto elas
adoram ir à pesca contigo.
A avó Bernardete era perita em encontrar soluções
para todo o tipo de problemas, mas custou-lhe aceitar esta notícia. Aos anos
que o pequeno barco fazia parte da família. Mas quem é que se lembraria de
praticar uma tal patifaria, e logo naquele dia?
Ana Carlota nem queria acreditar no que acabara de
escutar. Afinal o bote tinha mesmo sido destruído por um tsunami de limos
durante a noite e tudo o que lhe aconteceu naquela madrugada foi mesmo verdade.
E se ela ainda estivesse a dormir?
E se ela ainda estivesse a sonhar e aquela conversa
dos avós fizesse parte do sonho que ainda não terminara?
A prima Emília desceu a correr as escadas e gritou
dois sonoros bons dias. A tia Josefa e o tio Artur apareceram logo de seguida.
Ana Carlota estava visivelmente incomodada, e não
sabia mais no que acreditar.
Afinal de contas, era sonho ou realidade aquilo que
estava ali a acontecer?
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